19.3.08

Primavera

O equinócio está aí à porta mas traz-nos uma Primavera que começa tristonha(*). O poema de Hermann Hesse musicado por Richard Strauss (1864-1949) prevê-a bem mais luminosa que este céu de chumbo que se ergue agora sobre Lisboa.

(*Ou talvez não... A chuva parece ter mudado o rumo para nos oferecer uma Páscoa soalheira.)

Frühling é normalmente apresentada como a primeira das quatro últimas canções ("Vier letzte Lieder") de Strauss, o testamento de uma vida que começa com esta "Primavera", continua por "Setembro", "Adormece" e termina "Ao Pôr-do-Sol". São quatro canções compostas em 1948 e estreadas em Londres em 1950, já depois da morte do compositor, por Kirsten Flagstad e Furtwängler.

Aqui, ouvimos a voz de Kiri Te Kanawa com a Orquestra Sinfónica de Londres e Andrew Davis.



Frühling

In dämmrigen Grüften
Träumte ich lang
von deinen Bäumen und blauen Lüften,
von deinem Duft und Vogelgesang.

Nun liegst du erschlossen
in Gleiss und Zier,
von Licht übergossen
wie ein Wunder vor mir.

Du kennst mich wieder,
Du lockst mich zart,
es zittert durch all meine Glieder
deine selige Gegenwart!


Primavera

Em túmulos crepusculares
Sonhei longamente
Com as tuas árvores, os teus céus azuis
O teu perfume e o teu canto

Agora aqui estás
Envolta em brilho e glória
Banhada em luz,
Como um milagre diante de mim

Reconheces-me
E atrais-me docemente;
E os membros tremem-me
Com a tua presença bem-aventurada.
(Tradução de Rui Vieira Nery)


(belgradegeneve)
Lucia Popp com a Orquestra Sinfónica de Chicago e Georg Solti, em 1977