20.7.14

Diecimila anni alla nostra Elisabete

Quem foi ao Largo pôde assistir a um concerto que foi uma homenagem a Elisabete Matos verdadeiramente extraordinária. Felizmente, Jorge Rodrigues avisou-nos logo no início que devíamos apertar os cintos de segurança. Após a abertura de La Forza del Destino, o voo começou com o Te Deum de Tosca por Sergei Leiferkus. Contou-nos Jorge Rodrigues que, quando ele foi convidado a participar no concerto, respondeu: "Elisabete Matos? Of course, I love her". Ouvir este grande senhor no Largo de São Carlos foi um privilégio enorme. E seguiu-se um longo excerto do II acto de Tosca. A Matos e Leiferkus juntaram-se Paulo Ferreira, Marco Alves dos Santos e Manuel Rebelo. Mais um privilégio: ouvir Paulo Ferreira finalmente em Lisboa; ele, que tem feito carreira essencialmente em teatros alemães e austríacos. Todo o drama de Tosca esteve ali: a perfídia de Scarpia, a dor do torturado Cavaradossi, o desespero de Floria Tosca, que nos deu um Vissi d'arte de ir às lágrimas.

(Do FB de Elisabete Matos)

Pequena pausa para acalmarmos os ânimos, com o intermezzo de Manon Lescaut, e passámos para Turandot, a última ópera de Puccini. Dora Rodrigues interpretou a célebre ária de Liù, Tu che di gel sei cinta, e Elisabete Matos voltou ao palco para cantar o que é um dos papéis mais extraordinários da História da Ópera e que parece ter sido escrito e composto a pensar nela e na sua voz. No concerto de sábado, Elisabete fez o que parecia impossível: superou-se a si própria, e à actuação da véspera, e a sua Turandot foi ainda mais... (agora escolham o adjectivo, porque eu já não tenho). Vejam na RTP 2, na próxima sexta-feira, 25 de Julho. Destacar momentos altos da sua Turandot é difícil, porque são todos. In questa reggia é de antologia, a cena dos enigmas também, frases como Percuotete quei vili! enchem-nos de pânico.
Mais uma vez, convém notar que Elisabete Matos esteve belissimamente acompanhada pelo Calaf de Paulo Ferreira, pela Liù de Dora Rodrigues, pelo Altum de Marco Alves dos Santos, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos, pelo Coro Juvenil de Lisboa e pelo maestro John Neschling. Bravi tutti! Com um elenco destes, muitas ópera poderiam ser feitas em São Carlos. Se me deixassem mandar...

Final do concerto de sexta-feira (foto de A. Nunes)